Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/282

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Samuel levou o moço a seu gabinete; e entrou para dentro da grade que à semelhança de uma gaiola de arame fechava o balcão. Inclinando-se diante do fidalgo, cruzou os braços ao peito, enquanto com o pé ia sorrateiramente cerrando o postigo da grade:

— Meu senhor pode agora, que estamos em lugar seguro, falar a seu servo; pois ele renova aqui seu juramento de entregar-lhe essa mesma noite sua filha Raquel, única alegria de sua velhice, em troca do que lhe prometeu meu senhor.

— É depressa feito! disse o alferes resolutamente. O papel aqui o tendes; o santo ei-lo: São Brás te valha!

O alferes, isto dizendo, sacou a mentira escrita do bolso do gibão, como lançara da boca a mentira falada; depois encaminhou-se para a porta. Samuel que tivera tempo de lançar os olhos ao papel, atalhou-lhe a saída:

— Perdoe meu senhor a ousadia de seu servo; mas nem este papel é a cópia do memorial, nem foi o santo dado esta tarde o mesmo referido.

D. José ficou estúpido, e titubeou um instante; mas logo recuperando a sua arrogância, exclamou: