Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/297

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Na ocasião em que passava a cena anterior, um vulto ligeiro e cauteloso aproximou-se da porta do camarim, e conhecendo pelo toque que ela estava fechada interiormente, dobrou o ângulo do aposento, e achegou-se à linha das ameias. Debruçando para ver o que passava exteriormente, sua mão apalpou um corpo, que pelo calor lhe pareceu animado e pelo estofo das roupas de criatura humana. O vulto recuou de espanto; mas vendo imóvel o indivíduo suspeito, serenou, acreditando-o adormecido. Realmente a posição em que se achava era indicadora do sono profundo de quem estivesse morto de fadiga.

Entanto abicava o batel à Ribeira. Durante a travessia os dois fugitivos tinham vestido de novo as fardas de mosqueteiros; e o Anselmo o seu traje costumeiro, deixando sempre em trouxa as roupas do ajudante. Ao saltar em terra o salteador dissera ao patrão da chalupa:

— Ao toque d'alvorada cá estaremos, Pedro!

— Não tendes mais que dar o sinal! Heis de nos ver daqui amarrados à boia.

— Manda comigo um dos remeiros para trazer-te com que passar o tempo até lá.

— Bem lembrado, Anselmo. Leva o Inácio!