Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/302

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A um lado do aposento tinham posto um bufete carregado de doces, frutas e vinhos. A formosa judia, como enlevada pelas falas do amante, travou-lhe da mão e o levou até a mesa; sentaram-se ambos. Ela ergueu um frasco de vinho da Madeira e encheu a taça do alferes; partindo depois entre os dedos um figo passado, cujas migalhas babujava com os lábios purpurinos, continuou a ouvir as futilidades que o fidalgo enfiava umas sobre outras.

Muitas vezes D. José parava, julgando ter dito bastante, e dava mostras de passar à realidade de suas esperanças; mas a judia repelindo a mão afoita com gesto decidido, suplicava-lhe ao mesmo tempo com o olhar e a palavra que continuasse:

— Mais!... Ainda mais!... Acabai de render-me! Fazei-me vossa d'alma, antes que o seja do corpo.

E o fidalgo, apesar de sua impaciência, sentia prurir-lhe a vaidade do namorado, e continuava nos seus ridículos protestos de amor.

Afinal a clepsidra colocada sobre a mesa deu sinal que uma hora era passada desde a entrada do alferes. Vendo a última gota do róseo líquido, que escoava