Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/307

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e formosa gorja, que ondulou como um colo de garça.

— Não me entendes! rugiu o alferes. O punhal é para teu pai se opuser-se a meu intento. Para ti bastam-me as mãos... Tu me pertences; comprei-te com a minha traição; já que não te queres entregar de vontade, te constrangerei a isto!... É o meu direito.

— Desafio-vos a que dês um passo para mim!...

D. José de Aguilar fincando as mãos no bufete, ergueu-se a custo, e com o passo trôpego dirigiu-se para onde estava a donzela. Por detrás dele a porta falsa abriu-se de repente, e apareceu no escuro a figura sinistra do velho Samuel, brandindo o cutelo com um gesto feroz.

Raquel sorriu.

— Não é preciso ferro, pai!... O Senhor e sua força são comigo!

Com efeito o fidalgo apenas promovera dois passos pelo aposento, sentiu faltar-lhe as pernas, e caiu por terra; ainda esforçou para erguer-se, mas um torpor geral invadiu-lhe o corpo e o estendeu num pesado letargo. O mancebo havia nessa noite bebido demais, é certo; porém o desfalecimento de forças que o prostrara não tinha visos