Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/70

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povo reverente, o pregador arrojou-se de novo, soltando os voos à sua eloquência impetuosa. O P. Molina era sobretudo orador de improviso; os cometimentos ousados, as inspirações audaciosas, os rasgos sublimes, debalde os buscara ele no silêncio da cela e na meditação e estudo: onde os achava era no púlpito, quando o arrebatava o entusiasmo apostólico. Aí a ideia lhe caía do céu na mente inspirada, já envolta na palavra eloquente, que às vezes fluía, outras espadanava do lábio arrogante.

O sermão escrito não era pois para o P. Molina mais que um apontamento, ou melhor um ensaio da pregação. Dele só aproveitava de ordinário o introito; e muitas vezes nem isso. Se a inspiração lhe chegava logo, como já havia sucedido, seguia após ela. Nesse dia fora a presença de Dulce que desviara seu discurso do rumo traçado. Logo que aparecera no púlpito, o jesuíta percorrendo a igreja do olhar vasto e eminente com que os grandes oradores tomam posse de seu auditório, viu defronte de si a filha de Ramon e a reconhecera imediatamente apesar dos anos, pela impressão que causou nela seu aspecto.

Ele sabia a lucidez maravilhosa do olhar do coração,