Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/76

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nunca desviara a atenção da cadeirinha, viu o dedozinho mimoso enfiar outra vez pela rótula, mas dessa vez bem longe de agitar-se, ficou imóvel, como apontando-lhe o lugar vago. Ele obedeceu, e foi ajoelhar onde lhe ordenavam. Supôs achar-se então bem perto da pessoa que o chamara; e de feito através dos interstícios passava um hálito tépido e perfumado que bafejava-lhe a face esquerda.

Entretanto nada mais adiantava o cavalheiro, e já ia erguer-se, quando começou a ouvir um ligeiro e doce sussurro de rezas proferidas por uma voz maviosa, ainda tão baixo que não se percebiam palavras. Mas logo a fala subiu de tom, e disse claramente estas palavras:

— Esperança nossa... a vós bradamos... a vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de lágrimas...

Estácio conheceu que a voz misteriosa rezava a Salve-Rainha, e tão compungida que às vezes excedia-se deixando perceber umas frases soltas e destacadas. Aplicando o ouvido para embeber-se daquela voz suave, qual não foi o seu pasmo ouvindo com um termo ainda mais claro e expressivo um trecho da oração assim invertido: