Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/12

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O fidalgo ordenou que o fizessem entrar, e interrompendo as suas notas, esperou a visita anunciada.

D. Diogo de Mariz teria cerca de trinta anos; mas os últimos cinco decorridos depois da catástrofe que lhe roubara de um só golpe toda a família, haviam assolado aquela mocidade robusta e viçosa. A sua fronte alta e inteligente, como a de seu pai, começava a despovoar-se, e a tez morena, menos crestada do sol do que outrora, parecia curtida pela dor e saudade.

Mas o que perdera em brilho e frescor da idade, ganhara em gravidade de aspecto e nobreza de gesto. Começava a adquirir a beleza varonil, que adornava o busto venerável de D. Antônio de Mariz, ainda nos últimos dias da sua existência.

A sala em que se achava o fidalgo era como a página desdobrada do íntimo de sua alma: ali estavam em torno, a cingi-lo, as recordações mais palpitantes de sua vida. Os retratos de seus pais, de Cecília e Isabel, pendiam das paredes; e em frente à papeleira onde escrevia, um pintor do tempo imaginara sob as indicações do fidalgo uma cópia muito semelhante da casa do Paquequer assentada sobre o rochedo à margem do rio. A um lado