Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/245

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entrou o leigo a dar conta do recado que levara a mestre Brás. Ficava o taberneiro com o pé na soleira para obedecer às ordens do Reverendo P. Provincial.

Aproveitou o jesuíta esse instante vago para folhear na letra B o livro negro da irmandade da Companhia, onde encontrou, conforme esperava, o assento concebido nestes termos:


“Brás Joaquim, ilhéu, quarenta e oito anos, jurado aos 10 de setembro de 1593. Mau homem e perigoso; grandíssima astúcia, nenhuma fé. Dizem ter parte com os mercadores judeus, a quem ajuda no contrabando. Pôs agora taberna na Travessa de Palácio, e dá tavolagem nos fundos da casa.”


Chegou afinal o cujo; e entrou desfazendo-se em mesuras e rapapés.

— Folgo muito de tornar a ver-vos, mestre Brás. Quando nos separamos em Espanha, nenhum de nós pensava encontrar-se mais neste vale de lágrimas; porém tais voltas dá o mundo!

— Estou como conhecendo V. Paternidade; mas esta minha memória!... Os anos já não são poucos e a carga por demais pesada...