Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/100

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passava-as ali, defronte daquela janela; o aposento permanecia na escuridão; a luz viva magoava as melancolias de sua alma; ele preferia o trêmulo rutilo das estrelas, que bruxuleavam a afogar-se no azul profundo da atmosfera. Havia também em sua alma lampejos fugazes e crebros que se imergiam em um céu de sombrias recordações.

Naquele momento acabava ele de chegar de casa de D. Luísa de Paiva.

Inesita, sabedora da enfermidade de sua amiga, fora nessa tarde visitá-la acompanhada de D. Francisco. Enquanto o fidalgo praticava na sala com a viúva, a donzela correu à câmera da enferma pensando encontrá-la só. Ao entrar não teve olhos senão para ver sua querida Elvira, magra e abatida, mas sempre formosa.

Correu a abraçá-la; sentindo em sua face ardente os frescos e macios lábios da gentil menina, Elvira exclamou com um tom pungente:

— Inesita!

— Que foi? Magoei-te?

— Não me toques!

— Perdão!