Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/109

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caixa no vão que deixava o oco pedestal de madeira.

— Bem; agora tratemos de repor as coisas no seu antigo estado, disse Vaz Caminha. Qu’é da nossa botija?

A dona procurou no canto um largo vaso de boca estreita, que de antemão mandara o licenciado conduzir para a sua casa, bem envolto, de modo que se não aventasse o que realmente era. Estava esse vaso cheio de carvão até a boca.

A ideia de Vaz Caminha era aproveitar-se de um prejuízo, muito enraizado na plebe, para desvanecer nos salteadores a convicção em que estavam dos ricos possuídos de Dulce. Ainda hoje há pelo interior quem acredite que o dinheiro enterrado por pessoa finada se transforma em carvão, à vontade de quem o possuiu, e sobretudo quando o acha outro, que não o escolhido herdeiro da alma penada.

Encontrando a botija, os salteadores sem dúvida acreditariam que o ouro de que estava cheia se trocara em carvão; e deixariam em paz a casa de D. Dulce. Então quando se retirassem já aterrorizados com a superstição, esbarrariam nos quadrilheiros postados ali perto, e iriam chorar os seus pecados na cadeia até o dia do castigo.