Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/114

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seio de cada família se encontram as nobres filhas de Santa Isabel, insultam seus próprios cidadãos, indo mendigar a caridade estrangeira! Tristes tempos são estes em que precisa o nosso povo importar com as mercadorias as virtudes!

O escravo, ao movimento que fizera Dulce, entreabriu as pálpebras e estremeceu. Não compreendia o que viam os olhos; não sabia como surgira aquela aparição. Mas também os espíritos não trabalhavam; os sentidos sim, esses cediam a uma doce e inefável influência. O ódio entranhado que votara à raça cruel, por tê-lo arrancado às suas plagas africanas, reduzindo-o de príncipe que era lá, a escravo; esse rancor profundo se desvanecia como por encanto.

Quando pois a dona lhe apresentou uma taça cheia de cordial, pôs nas bordas os beiços, e vazou-a sem hesitar. A obstinação tenaz transformara-se agora em docilidade de cordeiro. Breve recobrou o escravo as forças com a saúde; e pôde entrar no serviço da casa, depois de batizado.

A dedicação que o escravo tinha pela senhora, estendeu-se a Ramon, de quem chegou a merecer a maior confiança, já pela amizade que mostrava, já pela invencível estupidez de que o supunha dotado.