Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/12

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acocorado na crista do rochedo. A seus pés corre aos saltos o caudaloso rio, que de repente tolhido no arrojo por uma mole de granito, empina e boleia-se como um indômito corcel, precipitado do alcantil, montanha abaixo.

Imóvel e estreitamente ligado ao negro rochedo como uma continuação dele, o selvagem ancião parece algum ídolo americano, que o rude labor dos aborígines houvesse lavrado no píncaro da rocha, deixando-o assente em seu pedestal nativo. As longas e alvas cãs espargem-se pelas espáduas, como os frocos de espuma que desfiam na lomba do penedo.

Do rosto seu, lhe ficou a fronte nua e proeminente, onde os raios do sol nascente batem de chapa; o resto das feições somem as rugas profundas que os anos cavaram naquela tez negra e requeimada.

Não é mais fisionomia humana; as revoluções da vida a desfiguraram inteiramente, como os cataclismos transformam o risonho vale em um brejo cheio de tremedais e corcovas. As fosforescências, que à noite luzem dessas profundas charnecas, são os fulgores dos olhos fugidos pelas órbitas.