Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/14

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Quem sabe se o pajé não viu nascer o seu último sol?

Eis o que os olhos do velho contemplavam, ali no sopé do rochedo, e além, nos confins do horizonte. Mas a misteriosa ligação entre os tesouros e o desconhecido guerreiro, só a poderá saber quem penetrar em sua alma.

A história é verdadeira, porém estranha.

Havia mais de meio século.

Abaré, o grande pajé dos Tupis, vendo seu povo expulso das formosas ribeiras de Paraguaçu e Maragogipe pelo feroz emboaba, suas tribos dispersas e foragidas, seus filhos cativos do estrangeiro, cobriu-se de luto. Mas Tupã lhe falara à noite, na hora dos sonhos, e ele fora de taba em taba, rugindo o maracá por todo o vale ou montanha, onde ressoava a doce língua da valente raça.

— Guerreiro de Tupã, dizia ele; não vistes as águas do grande rio em sua nascença? São pequenas correntes, que uma sede de tapir estanca; um formigueiro basta para lhes fazer voltar o rosto. Mas quando se reúnem, nada resiste à torrente impetuosa que vai escalando