Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/163

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de uma grata esperança. Mas Raquel, do grêmio de sua efêmera e sonhada ventura, percebeu o modo zombeteiro com que a mirava a cigana, e toda a expressão prazenteira de sua fisionomia, colhida de repente como a auréola de uma cruz que se extingue, recolheu dentro d'alma.

A judia tornou à melancolia, confusa e contrariada por aquela súbita e irresistível manifestação:

— E D. Inês?... Como recebeu ela estes sucessos?... Desagrada-lhe menos o segundo noivo do que o primeiro?...

— A ela bem sabeis, todos lhe desagradam, desde que não for o desejado! Mas desse está ela bem livre, vos seguro eu!...

— Vive ela triste?... Mais que eu? perguntou a donzela.

— Não sei se mais; porém triste e pesarosa, dizem todos, e só não vê quem não quer.

“Mais! Deve de ser mais!... murmurou consigo Raquel. Por isso mesmo que é amada e pressente já o suplício de ser entregue a outrem que não o escolhido de seu coração. Terrível provança há de ser essa para quem não tiver a coragem de