Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/165

Wikisource, a biblioteca livre

— Tu me acompanharás até lá! e quanto ao traje, pouco me importa; não vou disputar com ela em beleza!...

— Que ides fazer vós? É preciso que eu saiba!

— Vou para vê-la e... Meu coração me há de inspirar no momento.

Depois de alguma, mas já débil resistência, a cigana deixou-se vencer um pouco pelos rogos de Raquel e muito pelo ouro da bolsa.

Procederam logo à permuta dos trajes e ao disfarce da bruxa. A velha cheia de rugas, que entrara no camarim, desapareceu como por encanto, deixando em seu lugar uma rapariga cigana, de olhos negros e vivos, tez morena e embaciada, que teria cerca de trinta anos.

Essa rapariga fora moça caseira do velho Samuel, em companhia de quem esteve desde muito criança e sempre bem procedida e recatada. Um dia porém, havia dez anos, o Anselmo, ou o demo na figura dele, como diziam as velhas, lhe transtornou o juízo. Com ele fugiu da casa do amo, e por algum tempo não souberam partes dela. Mas entre a gente baixa muito se falou então de uma moçoila que escandalizava as locandas e tabernas com sua desenvoltura e desregramentos. Contavam-se coisas