Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/168

Wikisource, a biblioteca livre

— Para nada!... Talvez sirva para encurtar uma existência desgraçada! Dai-ma!

— Não; deixa-a onde está! respondeu Raquel com vivacidade.

Que pensamento lhe trespassou o espírito como um relâmpago?...

Marcava o quadrante da Sé onze horas. O sol era ardente, como costuma no mês de março: raro passante transitava àquela hora pelo caminho de Nazaré. Duas mulheres, bem rebuçadas, uma em sua capa, outra num manto vermelho esburacado, chegaram perto do solar de D. Francisco de Aguilar. Parando a distância, trocaram algumas palavras, depois do que a mais moça escondeu-se no mato, e a velha bruxa avançou para a porta do solar.

Recebida pelos remoques dos pajens, Raquel sentiu vacilar sua coragem. Foi necessária a lembrança de Estácio, e o poder que o mancebo tinha em sua alma, para reanimá-la. Por felicidade, o rumor que faziam os rapazes atraiu as escravas, das quais a bruxa tinha decidida proteção. A judia reconheceu facilmente a mulata indicada por Zana; e no primeiro ensejo atirou-lhe ao ouvido estas palavras: