Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/188

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Talvez ainda com a seiva da árvore vingue desse pólen um fruto fanado e mesquinho; porém não mais estilará aí um perfume, nem espontará uma pétala. A flor morreu.

Como essa flor era agora o amor de Cristóvão. A bonina do seu coração, mau sopro a desfolhara, deixando o cálix nu e triste. Sem dúvida ainda queria ele a Elvira, como à esposa sua que não tardaria de ser; porém os sonhos azuis, os devaneios suaves, as esperanças douradas, pétalas e perfumes das rosas de sua alma, essas se tinham esvanecido. Passara rápida e melancólica a primavera dessa flor de sentimento; já estava no seu outono, na queda das folhas, quando assomam no horizonte as primeiras brumas.

É certo que a história do amor é sempre essa; folha, flor, fruto, doce ou amargo: esperança, gozo, saudade ou remorso. Mas quando o coração passa gradualmente pelas suas diversas fases, ao chegar à estação calma e serena, já está saciado de delícias; não lhe faltam então as gratas reminiscências para semear sobre a monotonia do presente. Vêm os arrebóis que douram as sombras da tarde; vem o recordo, essa evocação do passado embelecida pela imaginação.