Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/34

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alto jorros de diamantes: embriagou-se enfim dessa vista deslumbrante.

— E derramariam até a última gota de seu sangue!... murmurou a voz cava do velho pajé.

Esse eco de seus primeiros terrores evocou o aventureiro de sua ebriedade. Ergueu-se estremecendo; com rápido movimento encheu de pedras preciosas seu chumbeiro, e arrancou-se à fascinação que o subjugava. Correu à entrada da gruta, e fugiu com as últimas réstias de luz da tarde que se morria. Ao volver uma última vez o rosto para o vaso cheio de diamantes, vira ele um lampejo fulvo, que desferiam as profundas pupilas do velho pajé, e brilhava mais que os fogos da pedraria.

Vendo fugir assim o guerreiro branco, como o espírito da vingança terrível de Tupã, Abaré sorria com delícias de tigre saciado.

E o aventureiro fugia sempre; aquelas riquezas fabulosas lhe incutiam mesmo de longe misterioso horror; a só lembrança delas gelava o sangue em suas veias.

Infeliz velho!... Não era ambicioso, não. Vivera a melhor parte de sua vida pobre, honrado e feliz; nunca pelo seu espírito calmo perpassara