Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/36

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descobrisse a Robério as minas de prata, e aproveitando-se de sua ilusão, exigira as riquezas prometidas.

Ao romper d'alva tornou Abaré a seus trabalhos até o dia em que o rio, atalhado na sua carreira por uma muralha de granito, corcoveou espraiando-se pela encosta do rochedo. O primitivo leito do rio ficou a descoberto; o pajé viu com satisfação que a fina vasa era tapeçada de diamantes sem conta.

— Meu filho pode chegar.

Desde esse dia, sentado na crista do rochedo, esperava o guerreiro de sua carne, que lhe prometera voltar; mas cada sol que se deitava por detrás da serrania levava-lhe mais uma esperança, e mais um calor da vida, que abandonava o seu corpo decrépito. Às vezes quando o desânimo o entrava, ele revolvia as profundezas de sua alma, e de lá arrancava aquele eco lúgubre:

— E derramariam até a última gota de seu sangue!...

Sabe-se agora por que o velho pajé, acocorado na crista do rochedo, olhava o leito abandonado do rio e o horizonte ermo.

Nessa manhã sentiu que seu fim se aproximava;