Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/48

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me isto! disse o jesuíta sorrindo. Conheceis este pequeno instrumento?

— Nunca o vi. Para que serve? disse o mancebo fingindo habilmente ignorância.

— Pera de angústia, é o nome que lhe davam nos cárceres da inquisição. Serve para fazer muda a boca que se obstina a falar. Ora, se ao mesmo tempo que me ligásseis os braços, me introduzísseis este objeto entre a maxila e o palato, ficaria eu privado do movimento e da palavra.

Estácio abanou a cabeça:

— Não acreditais?...

— Vendo, pode ser.

O P. Molina com uma expressão de simplicidade, que devia tornar Estácio desconfiado, tomou delicadamente a pera e a introduziu na boca. Era o que o mancebo esperava; travando com força dos braços do frade, murmurou-lhe ao ouvido:

— Melhor é, padre, que não me obrigueis a usar de violência! Rendei-vos de boa vontade. Lembrai-vos que eu tenho a morte atrás de mim a perseguir-me, e a ventura avante a sorrir-me!

O frade acobardou-se, e submisso deixou que o mancebo