Página:As asas de um anjo.djvu/21

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Carolina, a protagonista, é um tipo que me esforcei por copiar; não é uma criação minha. Um crítico bastante benévolo chamou-lhe um retrato d'après nature; se assim é consegui o meu intento apresentando a realidade da vida, e descrevendo a luta da mulher que esqueceu os seus deveres contra a sociedade que a despreza.

Esta menina pobre excitada pela leitura de romances e pela imagem do luxo, desdenha o amor puro de seu primo, e é seduzida por um moço rico que lhe acaba de perder a imaginação; desse primeiro erro nascem outros como consequências necessárias e fatais; ela percorre todos os degraus da escala desde a pobreza até ao luxo, desde o luxo até à miséria.

A sua existência torna-se uma punição viva de todos os cúmplices de seu erro; e em uma das cenas do 3.° ato, uma das personagens faz sentir bem claramente aquela circunstância, traçando em algumas palavras a história dessa moça. Eis o que diz Meneses:

“É talvez isto, Carolina, que faz da tua vida um fenômeno moral que eu estudo com toda a curiosidade. Tu és um desses flagelos, não faças caso da palavra, que a Providência às vezes lança sobre a humanidade para puni-la de seus erros. Começaste punindo teus pais que te instruíram e te prendaram, mas não se lembraram da tua educação moral;