Página:As asas de um anjo.djvu/211

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essa paixão louca e extravagante; não pude extingui-la; consegui apenas dominá-la.

ARAÚJO – Mas hoje é ela que te domina.

LUÍS – Não, Araújo; Carolina nem suspeita! Habituei-me por tanto tempo a reprimir os meus sentimentos, que eles me obedecem facilmente. Não é pois o coração, é a razão que ditou a resolução que tomei.

ARAÚJO – Que resolução, Luís?

LUÍS – Vou casar-me com Carolina.

ARAÚJO – Como teu amigo, não consentirei que dês semelhante passo.

LUÍS – Por quê?... Dois anos de expiação e de lágrimas remiram essa alma que se extraviou. À força de coragem e de sofrimento ela conquistou a virtude em troca da inocência perdida. O mundo já não tem o direito de a repelir; mas exigente como é, quer que o nome de um homem honesto cubra o passado.

ARAÚJO – E tu fazes o sacrifício?

LUÍS – Sem a menor hesitação. Tenho morto o coração; todo o amor que havia em minha alma dei-o a Carolina; a fatalidade quis que ele se consumisse em desenganos; era o meu destino. Que posso eu fazer agora de uma vida gasta e sem esperança?... Não é melhor aproveitá-la para dar a felicidade a uma criatura desgraçada