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Página:As biografias históricas de Santos Dumont.pdf/12

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Valdir Ramalho

5 Biografias dos anos 1950

Em 1950 surgiu Santos Dumont gênio, por Raul de Polillo. Bem organizado, seu forte é que focaliza em detalhe os aparelhos do aeronauta e sua época de realizações. Contribui com alguns dados novos, entre os quais um documento com a lista de irmãos do grande Alberto. Porém, nada incorpora ao roteiro geral da vida de Santos Dumont traçado por Fonseca. Quase nada tem da infância do aeronauta, e em boa parte apega-se a trechos dos livros deste (transcrevendo-os, de fato). Apesar de tudo, tem uma interpretação própria, uma certa graça, e por isso merece ser lido.

O livro de Pierre Paquier, Santos Dumont maitre d'action, surgido em 1952 não tem informações concretas sobre o nosso aviador, exceto menções a uns poucos fatos mais conhecidos. O texto quase inteiro praticamente limita-se a afirmar banalidades sobre o aeronauta — coisas que se pode dizer de qualquer pessoa, tais como que Dumont era um homem de ação e reflexão. É suspeita a impressão que ele tenta passar de que tenha tido contato ou observado diretamente o aviador. Aparentemente, sequer consultou reportagens ou livros sobre ele.

Henrique Dumont Villares, sobrinho do aeronauta, lançou seu Quem deu asas ao homem em 1953. Quando garoto, Villares conviveu com o tio famoso, acompanhou-o em momentos importantes; porém, isso não o ajudou a traçar um perfil psicológico do magnífico Alberto, e nem sequer a mostrar que presenciou reações ou situações interessantes (talvez porque a diferença de idade e a imaturidade do garoto lhe impedissem de perceber a psique do aeronauta). Quase tudo que Villares diz foi tirado de biografias anteriores e dos livros de história de aeronáutica já consultados por Fonseca, Polillo e outros. Ademais, sendo membro da família, erra exatamente em informações sobre ela (além de erros sobre fatos aeronáuticos da vida de Dumont). O texto tem marcada tendência a idealizar Santos Dumont, pintando o retrato do homem sem defeitos.

No seu esforço, Villares acaba se contradizendo. Diz que Santos Dumont "sempre trabalhou só, não dispondo ... de corpo de auxiliares ... tinha que executar sozinho, todas as peças de sua obra" (p. 85-6). Mais adiante, porém, exibe uma fotografia da "turma fiel dos auxiliares" do aeronauta (p. 95). Ademais, esquece que os balões do aeronauta foram construídos pela firma Atelier Lachambre, enquanto que os motores eram adquiridos nas fábricas Dion ou Buchet. Nisso Dumont fazia muito bem, pois seria insensato tentar duplicar o trabalho de profissionais altamente competentes e experimentados que existiam em abundância na França.

O livro decepciona, se for julgado à luz do fato de que o autor é parente e conviveu com o biografado. Suponho que deve ter valido a pena, em 1953, por divulgar mais uma coleção de fotos do aeronauta (uma primeira coleção, com reprodução de qualidade

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scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013