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Valdir Ramalho

Vários livros dos anos 1960 e 1970 não trazem qualquer informação adicional importante sobre Dumont nem colocam sob nova perspectiva sua vida ou sua obra, embora sendo bons textos. Assim se dá com o livro de 1966 por Edmar Morel (O pai da aviação); o texto de 1973 por Wilson Veado (Santos Dumont, o menino de Cabangu em Paris), escrito para o público juvenil; o livro de 1975 por Pinto de Aguiar (Os precursores brasileiros da aeronáutica). Apesar do título, o livro de 1966 por José Feliciano de Oliveira (Os precursores da aviação) não é uma história da aviação nem biografia de Dumont; contém crônicas e polêmicas de jornais, superficiais, sem grande teor informativo.

Surgiu em 1973, centenário do nascimento do aeronauta, o livro do escritor Fernando Jorge, As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont; foi diligentemente revisado e melhorado em sucessivas edições (2003, 2007), vindo a tornar-se uma das melhores biografias.

O livro de Francisco Pereira da Silva, Santos-Dumont (1974), é formado sobretudo de paráfrases — quase transcrições — de textos publicados anteriormente, principalmente os de Gondin da Fonseca (1940) e de Ofélia e Narbal Fontes. Com essa ressalva, faz boa compilação dos fatos conhecidos. É de valor sua reprodução de algumas notícias de jornais brasileiros de 1901 a 1906 sobre Dumont.

Em 1982 saiu a notável coleção de fotos organizada por Fernando Hippólyto da Costa, em seu Santos-Dumont: história e iconografia (reimpresso em 1990). As fotos estão em desordem cronológica, coisa comum nos livros antigos sobre o aeronauta. A coleção vem precedida de um bom resumo da vida de Dumont, incluindo alguns detalhes não citados em obras anteriores.

Comentários finais

Em vez de conclusões, é mais apropriado falar de impressões colhidas nesta pesquisa das biografias históricas do grande aeronauta, uma vez que o que se segue tem muito de uma perspectiva particular. Oxalá sirvam aos leitores ao menos como uma visão plausível, a ser checada com mais pesquisa.

No início do século XX, Santos Dumont foi aclamado e comemorado entre nós como autor de proeza que afagava nosso orgulho, a de ter feito "a Europa curvar-se perante o Brasil" (expressão, aliás, que parece ter surgido na época, inspirada nele). Proclamou-se a grandeza do aeronauta, identificada com exaltação à glória do Brasil, em banquetes, festas e medalhas comemorativas; fizeram-se louvações em discursos, declamaram-se sonetos, cantaram-se modinhas, compraram-se cartões postais e bibelôs.

Nessa época, porém, não houve quem dedicasse tempo e esforços em investigar, estudar, registrar as coisas que tinham ocupado seu tempo, sua vida e sua contribui-

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scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013