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Valdir Ramalho

de realizações, ao mesmo tempo gozando de sua inteira confiança, foi, com o passar do tempo, perdendo chances de expor informações. A última oportunidade aproveitada foi o livro Quem deu asas ao homem, por Henrique Dumont Villares, sobrinho do aeronauta. Assim, parece razoável especificá-lo como a última biografia clássica. Fazia então 43 anos que o grande aviador abandonara as atividades aeronáuticas e 21 anos que falecera. As biografias bem pesquisadas que vieram logo em seguida são de 1962 (a de Peter Wykeham) e 1973 (a de Fernando Jorge), quase dez e vinte anos depois de Villares.

Pouco se conhece sobre o que foi publicado por revistas e jornais brasileiros antes do falecimento de Dumont em 1932. Mereceram destaque o artigo de Ernesto Sena "Santos Dumont íntimo" na revista A Avenida de 10 de outubro de 1903 e o relato sobre o voo do 14-bis no Almanaque Brasileiro Garnier para o anno de 1908 (grafia original). Sena traça um bom perfil do aeronauta, com uma descrição física de sua pessoa, como se vestia, como se sentava ou caminhava, tiques nervosos, modo de sorrir, pequenos hábitos, e assim por diante. O acesso mais fácil a seu texto é a transcrição feita pela quarta edição do livro de Gondin da Fonseca (1967); Fernando Jorge (2003) cita os principais trechos. Da época anterior a 1932, há 6 livros brasileiros ou franco-brasileiros que são referidos por biógrafos. Um livrinho ou folheto anônimo, dois livros de autoria de Santos Dumont e os livros publicados por Horácio de Carvalho, por Ribas Cadaval e pelo capitão-tenente Jorge Moller. Não são livros biográficos, embora sejam documentos importantes para biógrafos e historiadores.

O folheto de autor anônimo (1901) A conquista do ar pelo aeronauta brasileiro Santos-Dumont aborda dois temas: primeiro, um pouco da história do pai de Santos Dumont; depois, os dirigíveis possuídos e pilotados pelo aeronauta até sua entrada na competição pelo prêmio Deutsch (para voo de balão dirigível em torno da Torre Eiffel). Tem uns poucos dados da história pessoal de Santos Dumont, embora com erros. Henrique Lins de Barros (2003) beneficiou enormemente os leitores do seu Santos-Dumont e a invenção do voo, ao reproduzir aquele histórico folheto.

Ninguém procurou descobrir quem escreveu o folheto, com que motivação, e em que circunstâncias. O título é propositalmente ambíguo (aparece quebrado em mais de uma linha, com "pelo Aeronauta" abaixo em letras bem menores, e "Santos-Dumont" no lugar que seria do nome do autor), induzindo a pensar que o próprio aviador narra sua conquista do ar. Por isso, o livro é às vezes referido como de autoria de Dumont. Contudo, o texto interno dá indicações de que ele não seria o autor: refere-se ao aviador na terceira pessoa; faz contínua louvação a sua pessoa; e a certa altura o autor não identificado diz que foi recebido pelo aeronauta.

O livro de Horácio de Carvalho (1901) Navegação aérea concentra-se nos episódios (recentes para quando foi escrito) do período desde o início das atividades do

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scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013