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As biografias históricas de Santos Dumont

aeronauta até sua conquista do prêmio Deutsch. É bom documento quanto a isso, embora apenas repita o que se encontra em muitas publicações francesas da época. Há pouco sobre a pessoa e sobre o passado de Dumont.

Na primeira década do século XX havia um efervescente interesse da população francesa por esporte aéreo e aeronáutica, publicando-se muitos livros e revistas sobre eventos, personalidades, aparelhos aéreos e técnicas. A existência desse mercado permitiu a Dumont, que era um desportista famoso e amado, lançar em 1904 em Paris um livro intitulado Dans l'air (Dentro do ar). Houve edições em inglês, também de 1904, em Londres (My airships: the story of my life) e em Nova Iorque (My air-ships, com hifen e sem subtítulo); e edição alemã de 1905 (Im Reich der Lüfte). Em 1938 foi feita entre nós uma edição em português, com o título Os meus balões. A prestigiada editora Dover republicou o livro em inglês em 1973, com prefácio do biógrafo Peter Wykeham.

Não narra a vida do aeronauta, embora às vezes seja referida como autobiografia. Tem poucas e vagas menções à infância e juventude. Concentra-se em sua experiência aérea entre 1898 e 1903, dedicada à aerostação (voos em balões) na França, vivida dos seus 25 aos 30 anos. Dada a época, muito do que diz poderia ser colhido nos livros e periódicos franceses, com a exceção importante de breves indicações da imagem que o aeronauta fazia de si mesmo. Essas indicações, bem como o sumário de realizações, formaram a parte principal do roteiro das biografias clássicas.

O livro de 1911 Tratado de aeronáutica: navegação aérea, do aeronauta (isto é, balonista) José Ribas Cadaval, nascido em 1863, é uma obra técnica; contudo, tem fotos e diversas menções a balões e aeroplanos (isto é, aviões primitivos) da época, bem como a seus pilotos e idealizadores. Dedica aos aeroplanos de Santos Dumont três páginas sobre o 14-bis (p. 245-247) e uma sobre o Demoiselle (p. 272). Nelas nada informa que não apareça melhor em diversas outras obras. Além disso, há alguns erros sérios. O livro Aeronáutica militar — aerostação, publicado em 1912 pelo capitão-tenente Jorge Moller, aviador da marinha brasileira, também é uma obra técnica. Faz menção a Dumont de passagem.

Tendo-se aposentado de atividades aeronáuticas e vindo residir no Brasil, Dumont publicou em 1918 um segundo livro, O que eu vi, o que nós veremos. Nele há algumas notas autobiográficas e reflexões sobre aeronáutica. Contudo, as notas quase sempre recontam (e de forma igualmente curta e vaga) eventos já narrados no primeiro livro. Como este, é útil pelas indicações da imagem que o aeronauta fazia de si mesmo.

Não se conhece biografia de Dumont que tenha surgido antes de sua morte. Manoel Ferreira de Almeida publicou em 1929, no número 93 da Revista Polytechnica de São Paulo, um texto de 19 páginas intitulado "Uma glória mundial: Alberto Santos Dumont", do qual existem separatas (folhetos). Nele não há informações biográficas,

scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013

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