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Valdir Ramalho

nem análise técnica de obras de Dumont, apesar de o autor ser engenheiro civil. O texto visa louvar a pessoa do aeronauta e além de elogiá-la empregando as mais diversas combinações de adjetivos, conclama os leitores a promover a glorificação nacional por meio de um culto patriótico de Dumont.

3 Biografias dos anos 1930

Poucos meses após o falecimento de Dumont, surgiu em 1932 o folheto de Fausto de Almeida Penteado, Santos Dumont. Sua vida, seus feitos, sua glória. Apesar do título, não deve ser considerado uma das biografias clássicas, pois informa muito pouco sobre a vida de Dumont. Reproduz uma conferência pronunciada no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo em 25 de outubro de 1932. O texto é curto, impreciso, repleto de frases altissonantes, mas com poucos dados, vários errados; talvez seja útil, para pesquisadores, somente por mencionar nomes de alguns parentes de Dumont, uma vez que é difícil resenhar a família do aeronauta.

Tudo indica que o primeiro livro biográfico a surgir foi Vida de Santos Dumont (1935), por Ofélia Fontes e Narbal Fontes. Os escritores Ofélia (nascida em 1902, falecida em 1986) e Narbal (nascido em 1899 e falecido em 1960) escreviam livros infantis e didáticos para o ensino primário, tendo deixado uma vasta obra. A biografia, porém, é um texto para o grande público. No que concerne a suas fontes de informações, não apresenta referências a documentos, artigos, obras ou pessoas informantes, exceto menções aos livros do próprio aviador. Frequentemente romanceia, atribuindo a Santos Dumont pensamentos e diálogos que não se encontram nos livros dele, nem parece que haja fontes de informação para os mesmos. Na verdade, romanceia para suprir a falta de informações, sobretudo da infância do aeronauta. Não menciona locais e datas de muitos dos eventos que narra; nisso é evidentemente prejudicada pelos livros de Santos Dumont, os quais lhe servem de roteiro básico. Contudo, não se limita a estes, obtendo algumas informações adicionais, especialmente para compor a vida do biografado antes dos 25 anos e depois dos 40 (período não coberto pelos livros de Dumont).

Tem a qualidade de fornecer um panorama geral da vida de Santos Dumont, abrangendo as três grandes fases: infância e juventude, época de realizações no ar, aposentadoria do ar. Todavia, o texto dedica-se sobretudo a tecer louvação a uma figura idealizada, em vez de expor um retrato de pessoa real, com defeitos e frustrações. Isto se casa com o estilo rebuscado, verborrágico e povoado de imagens, em vez de ser descritivo e literal. Uma reimpressão feita em 1956 corrige alguns erros; porém, como o texto de 1932, ainda insinua que Dumont morreu do coração (apesar da informação de suicídio já ter sido dada em um livro sério, o de Gondin da Fonseca de 1940).

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scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013