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Valdir Ramalho

João Luiz Job, que é mencionado por outros autores como historiador da aeronáutica, lançou Vôo sem motor em 1939. Mas este, embora mencione Dumont em algumas passagens, é um livro de técnica de voo.

4 Biografias dos anos 1940

Em Aeronáutica brasileira, de Domingos Barros (1940), há um capítulo biográfico de Santos Dumont, mas de má qualidade. O mérito deste livro é ser um dos pouquíssimos que dão informações sobre o pioneiro brasileiro dos balões Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (nascido em 1864, falecido em 1902).

Dos livros biográficos clássicos, Santos Dumont, escrito por Gondin da Fonseca (1940), é de longe o melhor. Resultou de um esforço sério de pesquisa (todavia por alguém, ao que parece, sem qualquer formação acadêmica ou científica de pesquisador). Fonseca (nascido em 1899, falecido em 1970) recorreu a livros do início do século, a alguns jornais, e parece ter conversado com pessoas que conviveram com o aviador. Talvez como resultado dessas conversas, e possivelmente também devido à perspicácia e maturidade do escritor, foi-lhe possível traçar um perfil psicológico de Santos Dumont. Posteriormente não se conseguiu acrescentar grande coisa ao retrato da personalidade de Santos Dumont pintado por Fonseca – embora não se deixe de aprender alguma coisa em trechos interessantes nas biografias por Pollilo (1950) e por Jorge (2003).

A segunda edição de Fonseca (1940), surgida no mesmo ano, é praticamente uma reimpressão da primeira, exceto por pequeno e irrelevante prefácio adicional. O corpo da terceira edição (1956) difere da primeira por um novo prefácio; pela ampliação do trecho em que contesta (e, sobretudo, xinga) os irmãos Wright; e pelo surgimento de dezenas de notas ao final (antes só havia três), em troca da supressão de um índice onomástico. A quarta edição (1967) difere da terceira por eliminar os diversos prefácios, exceto aquele intitulado "Desabafo"; e por acrescentar, no final, reprodução do artigo de Ernesto Sena "Santos Dumont íntimo" (p. 380-3) e texto de Augusto de Lima Júnior (p. 383-8). Este, aparentemente inédito, é um sumário da vida de dois homens empreendedores em Minas Gerais do século XIX, o pai e o avô materno do aeronauta.

O esforço de Fonseca é talvez o maior e o mais útil que já se fez para conhecer o aeronauta. Depois, esforços adicionais, por outros autores, resultaram em boas biografias, mais atualizadas e melhores sob certos ângulos; mas todas elas plantaram no terreno que Fonseca preparou. Além disso, o mérito do livro é tal que ainda hoje pode ser lido com proveito. Todavia, tem um contraste paradoxal entre o trabalho biográfico de qualidade e o nível rasteiro da discussão sobre os Irmãos Wright; para Fonseca, que

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scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013