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— Fizemos o possível! E um dos ladrões está ferido... fiz fogo sobre ele, e ouvi um gemido. Fique tranqüilo: havemos de apanhá-los! E este pequeno, que é filho ou não sei que de um deles, há de dizer-nos onde os poderemos achar!

— Como não? — bradou o coronel — há de dizer tudo! Diga já!

Juvêncio exclamou ainda, com toda a sua força de alma:

— Nada posso dizer, porque nada sei! Não sei quem são aqueles homens!

— Bem! Veremos! Ficará preso, num quarto escuro, e amanhã há de confessar. E será espancado, até confessar!

Juvêncio foi levado a um pequeno quarto, ao fundo da casa, junto da cozinha.

Ficando só, pôs-se a pensar na sorte que o esperava: ser espancado todos os dias, até que se decidisse a confessar... A confessar o que? Um crime que não praticara?! Que ia ser dele, ali, desamparado, sem uma só pessoa que lhe valesse? Que fazer? Dizer quem era, e pedir que mandassem tirar informações, a seu respeito, na sua terra? Mas o padrasto ficaria conhecendo o seu paradeiro, e viria buscá-lo: e seria, de novo, o cativeiro, a tortura, a desgraça...

O rapaz tanto pensou, que, de repente, uma idéia vaga e indefinida a princípio, e precisando-se e acentuando-se pouco a pouco, começou a formar-se no seu cérebro.

Juvêncio concentrou-se, refletiu, e não conteve um grito de triunfo: tinha achado o meio de salvar-se!