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Mas apesar dessa reflexão desconsolada, a idéia voltou a martelar-lhe o cérebro. Não se conteve mais, e perguntou ao proprietário da venda:

— Faça-me um favor: pode dizer-me a quem pertencem aqueles jornais?

— São de um daqueles viajantes que ali estão jantando.

O menino ainda hesitou. Mas o desejo de ler os jornais foi mais forte do que o acanhamento e dirigindo-se aos homens que jantavam, Carlos perguntou-lhe se lhe permitiam passar os olhos pelas folhas...

— Que é que você quer ver nos jornais, menino? — perguntou um dos sujeitos.

— Tenho parentes na Baía, e como não vou lá há muito tempo...

— Pois, leia as folhas, contando que não as estrague, e torne a dobrá-las com cuidado.

O menino sentou-se, perto da porta, sobre um caixão, e começou a desdobrar e a percorrer com a vista os jornais. Nos dois primeiros, que abriu, nada encontrou. Mas no terceiro, logo na primeira página, achou algumas linhas que o perturbaram, fazendo-o empalidecer de comoção.

Era um aviso da redação, com o título: “Meninos desaparecidos”.

Dizia: “pedem-nos que chamemos a atenção dos nossos leitores e das autoridades deste Estado e dos Estados vizinhos para o anúncio que publicamos, na seção competente, sobre o desaparecimento de dois meninos, alunos de um colégio do Recife”.