Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/187

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— É que perdi muito sangue... devo ter... as costelas partidas! Acontecer uma desgraça como esta... a um homem velho... e doente, como eu!...

— Não fale mais, que isso lhe faz mal! — pediu Carlos.

— Não! — insistiu o enfermo — sei que vou morrer... e quero dizer-lhe uma cousa...

— Diga.

— Olhe! Meta a mão... aqui, no bolso direito das minhas calças...

Carlos obedeceu, e encontrou um maço de dinheiro.

— Guarde... esse dinheiro, meu menino... Se eu morrer, antes de chegarem os socorros, pode... ficar com ele... É seu!

— Não diga isso! — acudiu o menino. — O senhor não há de morrer. Guardarei o seu dinheiro, para entregá-lo ao senhor, quando chegarmos à vila, ou à sua família.

— Não! Não!... é seu!... guarde-o... — insistia o velho.

— Pois sim! Pois sim! — disse Carlos, para não o contrariar... — Mas sossegue! Não fale mais! Sossegue!

— O meu sossego... é a cova! — gemeu o homem. — Também, nesta idade, já é... tempo... de morrer... trabalhei muito, meu menino! Felizmente... deixo a minha gente amparada, e filhos e netos já criados... e encaminhados... na vida... É tempo de...

A voz ia diminuindo mais e mais a ponto de parecer penas um sopro. Carlos passou o braço por baixo da cabeça do ferido, e levantou-a, derramando