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— Também eu quero ir! – exclamou Alfredo – leva-me contigo!

— Mas tu és pequeno, a viagem é longa, o dinheiro é pouco...

— Venderei também o meu relógio...

Carlos não teve a coragem necessária para se opor à vontade do irmão. Foram logo dali preparar a jornada, que era penosa, - um dia em caminho de ferro, e ainda muitas léguas a cavalo.

O trem só partia no dia seguinte, às seis horas e meia da manhã. para economizar o pouco dinheiro que possuíam, os meninos nada compraram; e não querendo voltar ao colégio, onde receavam a oposição do diretor, resolveram não dormir. Foram até Afogados, onde tinham uma família conhecida, com a qual jantaram depois vagaram longamente pelas ruas da cidade, cansados, pensando no pai. Alta noite, dirigiram-se para os lados da estação, e ficaram por lá, à espera da madrugada, encostados às portas, lutando com o sono. às vezes, Carlos sentava-se, encostava a cabeça do irmão nos joelhos. Mas lá vinha um vulto, - um soldado ou um transeunte, - e os dois assustavam-se, temendo ser presos e reconduzidos ao colégio. Levantavam-se e continuavam a sua triste peregrinação.

Assim passaram a noite. Ansiosos pelo dia. tinham vendido os relógios, e não podiam saber a hora. De instante a instante, Carlos levantava a cabeça e olhava o céu, para ver a altura do Cruzeiro do Sul, ou para verificar se a estrela d’Alva já aparecia.