Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/224

Wikisource, a biblioteca livre

— E para que servem? — interessou-se Alfredo.

— Para a pescaria, — explicou o comandante. — Os jangadeiros são pescadores.

Agora, o pequenino ponto branco pouco a pouco ia ficando mais distante.

— Mas sempre é preciso ter muita coragem para afrontar assim os perigos do mar!

— É uma questão de hábito, — disse o comandante. — Essa gente está tão acostumada a arriscar a vida que já nem pensa nisso. Em cada uma dessas tábuas oscilantes, há sempre um homem, de pé, equilibrado, desafiando e vencendo a morte, manejando o remo fino, ou lançando a linha de pescar. Às vezes uma onda mais forte sobe para o céu, como uma montanha; jangada e jangadeiro desaparecem; mas, quando a onda cai sobre si mesma, a embarcação e o homem aparecem de novo, a embarcação sempre leve e linda sobre o mar azulado, e o homem sempre firme e sereno, tão calmo como se estivesse pisando a terra...

— Bravo! — exclamou Alfredo; — que gente!

— Em Pernambuco, e em todo o norte do Brasil, há milhares de criaturas que vivem assim, nessa trabalhosa existência, expondo-se aos naufrágios, para ganhar o pão de cada dia... Esses homens fazem-se ao mar ao romper da manhã, e vêem o dia todo escoar-se lentamente, na solidão das águas, e só voltam à terra quando cai o crepúsculo da tarde. Mas nem sempre voltam...

— Muitos morrem, não?! — interrogou Alfredo.