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LVII. NO MAR

Nessa viagem, da Bahia a Vitória, Alfredo divertiu-se extraordinariamente. Logo cedo, saía do beliche, e vinha, com os pés nus, assistir à baldeação do navio. Depois conversava com os marinheiros, pedia a explicação de tudo, ia à proa, entretinha-se em contemplar as reses e as aves que tinham de ser sacrificadas à fome dos passageiros, vinha contemplar à ré o sulco de espuma que o paquete deixava na água, travava palestra com vários viajantes que gostavam da sua vivacidade, — e prestava serviços a algumas senhoras, que enjoavam, estendidas em cadeiras de lona e vime, indo buscar-lhes laranjas e limões.

Carlos, na tolda, olhando a extensão iluminada do mar, não podia deixar de sofrer, ao encarar o oceano agitado por onde o navio avançava; tudo agora lhe era desconhecido, como era desconhecida a vida que ia viver... E volveu o pensamento ao passado, e, em turbilhão acudiram-lhe à lembrança todas as cenas da vida que desaparecera coma pessoa do pai; os olhos arrasavam-se-lhe de lágrimas, torturava-o a saudade... “Nunca mais!... Nunca mais o veria! Nunca mais ouviria aquela voz, nem veria aqueles olhos de