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estavam na tolda, ao lado do comandante admirando o espetáculo do crescer da tormenta.

— Aqui as tempestades nunca são violentas. Para um marinheiro velho, como eu, a que nós vamos ver não passa de uma brincadeira! Tempestades terríveis já vi eu!... E no mar largo, longe de todo e qualquer pedaço de terra, longe de todo e qualquer auxílio, durante longos dias seguidos!

— Qual foi a mais terrível tempestade que já viu, comandante? — interrogou um passageiro.

— Foi uma que vi no Pacífico, há uns vinte anos.

Enquanto o comandante falava, amiudavam-se os trovões. Com incrível rapidez, a nuvem crescera e cobrira todo o céu. As ondas avolumavam-se, encrespando-se, e balançando o paquete. Começaram a cair alguns pingos de água.

— Já aí está a chuva... Daqui a pouco teremos o sol de novo, porque a tormenta vai em direção oposta à nossa. É bom que vamos para dentro, se não quisermos ficar inteiramente molhados...

Entraram para a sala de fumar. A chuva desabou com extraordinária violência.

— E como foi essa tempestade de que o senhor nos falava, comandante? — perguntou Carlos.

O oficial contou logo.

— Foi, como ia dizendo, no Oceano Pacífico. Estávamos em viagem de instrução, a bordo de uma corveta de guerra. Tínhamos atravessado o estreito de Magalhães, e íamos para a Austrália. Nesse ponto do globo as tempestades são tremendas... Ficamos seis dias sem governo, à mercê