Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/28

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illuminando a paizagem. Dentro do carro, a atmosphera estava quasi irrespiravel, carregada de fumaça espessa. Uma pobre preta africana, já muito velha, sentada a um canto do carro, gemia e arfava, suffocada. Carlos correu para ella, e abriu a portinhola para que ella respirasse um pouco de ar fresco e puro. A velha contemplou-o com carinho, agradeceu-lhe o serviço, e instincti’vamente, num impulso de gratidão, estendeu-lhe uma das mãos, com um punhado de amendoins torrados. Carlos não acceitou o presente, mas Alfredo, com um grito de alegria, deu-se pressa em recebel-o.

— É seu irmão, yôyô? perguntou a preta.

— É!

— Para onde vão?

— Para Garanhuns.

— Ah! é a minha terra! Ainda falta muito. Carlos e a velha começaram a conversar. O menino, sempre pensando no pae, aproveitou o ensejo, que se lhe offerecia, de obter algumas informações. Mas a preta velha pouco sabia. Sabia. apenas que tinham apparecido na cidade uns engenheiros; mas já não estavam lá: andavam pelos matos, construindo uma estrada, a muitas leguas de distancia, no sertão bravo. Para chegar lá, seria preciso alugar animaes fortes, que pudessem resistir a caminhada. Carlos, ouvindo as explicações da velha, pensava tristemente que só lhe restavam cinco mil réis... Era todo o dinheiro que possuia! Como havia de fazer, com dinheiro, tão longa viagem?

A preta falava, sem interrupção, numa tagarelice infindavel, contando a historia d’aquelles lutão pouco