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— Da borracha. A borracha é feita com o suco que se extrai de uma árvore, que há em abundância pelas matas extensíssimas, às margens dos rios. A árvore tem o nome de seringueira, e os lugares, onde se encontra em grande quantidade, são chamados seringais. Eu mesmo já tive um seringal. Vendi-o por sessenta contos.

“O seringal é dividido em ruas; cada rua — um certo número de árvores — está a cargo de um trabalhador, um seringueiro, que tem aí o seu rancho. De quarto em quarto de légua, ou de meia em meia légua, encontram-se esses ranchos. Às vezes, o seringueiro habita completamente só; outras vezes tem consigo a mulher, ou um companheiro. São geralmente cearenses, — caboclos do sertão do norte, que vão ganhar a vida na selva amazônica.

O Amazonas apresenta duas quadras completamente distintas; é é por elas que toda a vida se regula. A primeira é a época da cheia, de dezembro a abril, em que os rios transbordam sobre as terras baixas, e em que a extensão das matas é um alagadiço, todo varado de igarapés. A navegação é franca por toda a parte; descem as embarcações, carregadas de bolas de borracha; sobem outras, atulhadas de gêneros. Toda a gente sai do interior das selvas, e vem para os barracões altos, nos raros pontos não atingidos pelas águas, ou dirige-se para a capital.

Na outra época, que é a da seca, os rios afluentes, até caudalosos, tornam-se inavegáveis: cessa toda a comunicação das grandes povoações com o interior das terras; a mata está em seco, e os seringueiros entregam-se ao trabalho.