Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/314

Wikisource, a biblioteca livre

— Ora! Ânimo! Para que chorar?...

E isto diziam num tom tão natural, tão desprendido, que a Carlos pareceu quase impossível que assim lhe falassem parentes... O rapaz ergueu a cabeça, e olhou-os surpreendido, quase indignado. Então, maior foi o seu espanto, ao reparar que os tios não estavam cobertos de luto.

— É verdade! — disse um dos tios — ainda não tomamos luto. Depois lhe direi porque! Agora vamos desembarcar. E não nos demoraremos na cidade; vamos para a estância, onde está mamãe.

— Mas porque não estão de luto? — perguntou Carlos, sem se conter, assim que desembarcaram.

— Porque não podemos ter a certeza da morte de seu pai! Esperávamos vocês, para saber alguma cousa mais segura. Que certeza têm da morte de seu pai? Viram-no, morto?

— Não...

— E então? Não se pode aceitar um fato importante, como este, sem uma prova, ou, ao menos, um fundamento razoável, um indício ponderável... Ainda, esperamos ter a certeza.

Ouvindo isto os dois meninos entreolharam-se, e sentiam-se cheios de uma nova animação. Pareceu-lhes outro o mundo... era como se, na treva de uma noite espessa, tremeluzisse o primeiro raio longínquo da luz de uma estrela.

Carlos perguntou, ansioso:

— E agora? E como?...