Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/41

Wikisource, a biblioteca livre

feita de troncos ou de espiques de palmeira, servindo de defesa.

— E andavam vestidos como nós?

— Qual! Andavam nus, apenas com alguns ornatos feitos de penas. Na cabeça tinham comumente uma espécie de diadema, acanguape; em torno dos rins, traziam uma tanga, enduape; e usavam ainda colares e pulseiras, algumas vezes formados por enfiadas dos dentes que arrancavam da boca dos inimigos mortos na guerra.

Homens e mulheres costumavam untar todo o corpo com uma tinta oleosa, que extraíam de certas plantas. Alguns usavam furar os beiços, as narinas, as orelhas, encaixando nos furos pequenos batoques de madeira.

— E como eram as guerras?

— Ah! Eram terríveis! Eram verdadeiras guerras de extermínio. Algumas tribos odiavam-se tenazmente, com um rancor que só desaparecia quando uma delas era totalmente destruída pela outra. Os prisioneiros eram comidos ou escravizados. As armas eram variadas. Havia os grandes arcos, por meio dos quais atiravam as longas frechas, cuja ponta formada por ossos ou dentes afiados era algumas vezes envenenada; havia as grandes lanças de pau-ferro, que eram arremessadas com uma certeza de pontaria admirável; havia as tamaranas ou tangapemas, que eram pesadas clavas, ou maças de madeira; e havia as esgravatanas, tubos ocos, com os quais, por meio do sopro, atiravam-se setas finas a grandes distâncias. Essas armas eram todas fabricadas pelos selvagens, cuja indústria relativamente adiantada ainda se revelava no fabrico de vários utensílios