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e as calças arregaçadas, e viam-se-lhe, ao sol, os braços e as pernas de músculos grossos e tendões rijos e salientes. Era um belo exemplar do robusto sertanejo nortista. A presteza com que arreava os animais, e a força de que dava prova, apertando as correias, atestavam uma longa prática daquele serviço.

— Que toque é este de campainha, seu Benvindo?

— Com certeza é alguma tropa que vem da vila, patrãozinho. Não tarda a aparecer... Olhe! Aí vem ela!

Alfredo voltou-se, e viu na estrada, do outro lado do riacho, um séqüito de burros, uns atrás dos outros, em fila. O da frente trazia uma campainha no pescoço: todos os outros o seguiam docilmente, guardando a mesma distância entre si. Vinham carregados de couros; cada um trazia dois rolos enormes, um de cada lado da cangalha; era tão pesada a carga, que os animais tinham o lombo derreado, e caminhavam devagar, como apalpando o solo com as patas. Atrás, no couce da tropa, vinham dois homens a pé, e um menino a cavalo.

Os burros, assim que chegaram ao riacho, correram todos para a água, sequiosos. Como eram muitos, sujaram logo a água com as patas. E Alfredo notou, com interesse, que todos, ao mesmo tempo, voltavam a cabeça para o lado de cima, à procura do líquido que vinha limpo:

— Também eles sabem que a água, que corre, vem sempre limpa... — disse consigo mesmo o pequeno sorrindo.