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para lá do rio. Vamos ver se chegamos a Piranhas amanhã pelas quatro horas da tarde!

Não falharam os planos do camarada. Depois de um curto descanso, continuaram a jornada; e a noite, ao cair, apanhou-os junto do rancho de um vaqueiro, duas léguas além do rio. O homem recebeu-os bem, como podia. O seu casebre era tão pequeno, que os dois irmãos dormiram fora, sob o alpendre, metidos ambos numa só rede. Carlos lembrou-se da casinha da preta velha, em Garanhuns: era mesma, a pobreza, e era mesma, a boa vontade; e, abençoando a hospitalidade e a bondade da rude gente do norte, o menino adormeceu serenamente, ao lado de Alfredo, que, de cansado, dormia tão bem como se estivesse deitado numa cama de penas.

Antes da madrugada, beberam uma forte dose do excelente leite que lhes ofereceu o vaqueiro, e puseram-se a caminho. Quando o sol nasceu, já tinham caminhado meia légua. A estrada, sempre plana, sempre despida de arvoredo, era castigada barbaramente pelo sol. Às nove horas da manhã, já o calor era intolerável. Havia lugares em que as ferraduras dos animais batiam em rocha, viva, tirando fagulhas. Cada vez aumentava mais o calor. Não soprava a mais leve aragem; o ar pesava dentro dos pulmões; os animais arfavam, banhados de suor.

— Nós hoje temos tempestade, com certeza! — disse Benvindo.

De fato, às duas horas da tarde, o disco do sol foi adquirindo uma cor avermelhada, e, depois pardacenta; o céu nublou-se; para o lado do sul, começou a fuzilar.