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Carlos, porém, opôs-se tenazmente ao sacrifício do excelente camarada: — Não, Benvindo, não! Antes de tudo, o dever: você tem o seu trabalho em Garanhuns... Já não foi pequeno o incômodo que lhe demos! Dê muitas lembranças ao Dr. Cunha, ao capitão Paulo, e àquela boa preta que tão nossa amiga se mostrou.

Às sete horas, partiu o trem. Benvindo acompanhou-o com os olhos até que o viu desaparecer na primeira curva da estrada. E os dois rapazes encetaram a nova fase da sua fatigante viagem, num carro de segunda classe, muito agarrados um ao outro, e entregues agora a si mesmos.

A paisagem era a mesma que tinham visto até então: chão pedregoso, poucas árvores, retorcidas e nodosas, morros de áspera pedra negra, pastagens raras e fracas.

No carro em que viajavam os dois irmãos, ia um moço, brasileiro como eles, expansivo, olhando-os constantemente, com um manifesto desejo de entabular conversa. Depois de alguma hesitação, não se conteve, e apresentou-se. Era o representante de uma grande casa comercial da Baía, e tinha uma conversa agradável e instrutiva, porque gostava de contar as suas viagens por todos os Estados do Brasil.

— Os senhores nunca viajaram?

— Muito pouco; — disse Carlos. — E, infelizmente, não é uma viagem de recreio, a que fazemos.

— Pouco importa! Disse o moço. — Viajar é sempre útil. Em geral, os brasileiros são sedentários,