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— É difícil contar... Imaginem os senhores que o rio São Francisco se despenha, com toda a sua massa formidável de água, de uma altura de oitenta e um metros! O salto dá-se justamente uns trezentos e dez quilômetros acida da foz do rio.

— Trezentos e dez quilômetros! — disse Alfredo. — Mas isso deve ser uma distância enorme!

— Ora! — disse Carlos. — O rio São Francisco é um dos maiores do globo: o seu percurso é avaliado em dois mil e novecentos quilômetros! Mas vamos ouvir este senhor que já teve a fortuna de ver a cachoeira.

— Quando o rio chega a esse ponto, — continuou a dizer o viajante, satisfazendo a curiosidade dos dois meninos — as suas ondas passam apertadas entre duas altíssimas muralhas de rocha. Obrigadas a passar por essa garganta, as águas avolumam-se, esmagam-se, atropelam-se, atiram-se vertiginosamente por uma rampa de granito, e desabam da altura de oitenta e um metros, formando quatro canais, de muitos metros de largura... Mas, o mais admirável é que, sendo curvos os canais, as correntes de água encontram-se em certo ponto, num choque tremendo, cujo barulho se escuta e muitas léguas de distância. O viajante ainda vem longe, longe... e já ouve o mugir soturno da cachoeira.

— Mas quando se está perto é que o espetáculo deve ser belo — disse Carlos.

— Não é somente belo: é amedrontador: Toda a terra estremece... parece que há, ao mesmo tempo a erupção de vários vulcões rugindo. As águas crescem, confundem-se, brigam, separam-se, tornam a chocar-se numa peleja titânica, com um