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Nos dois primeiros dias, ainda os divertia o espetáculo do rio. Uma viagem fluvial é sempre interessante para quem a realiza pela primeira vez. A jornada é monótona, mas tem, a princípio, o encanto da novidade pitoresca. Os rapazes contemplavam o curso do rio São Francisco, — às vezes manso e largo, espraiado como um mar, — outras vezes acachoeirado, dividido em canais, formando ilhas e ilhotas, estas cobertas de vegetação opulenta, aquelas inóspitas e rochosas, opondo-se às vagas que as batiam em fúria. Das ribanceiras ou das pontas das ilhas partiam muitas vezes bancos de areia grossa e branca, planos, como aterros feitos pela mão do homem. Em certos pontos, via-se o gado, que vinha neles pousar, tão serenamente como se estivesse em terra firme. As margens do rio mostravam-se cobertas de matas: viam-se ali os troncos brancos das embaúbas, os altos jacarandás, as baunilhas espinhosas, as palmeiras tucumã.

— De onde vem esse rio? — perguntou uma vez Alfredo.

— Vem de Minas...

— Como é grande o Brasil!

— E como nós já temos andado! — acrescentou Carlos, com tristeza.

Os últimos dias foram tristes. Aquela uniforme extensão de águas, aquela mesma paisagem selvagem, desdobrando-se sem variedade, davam aos dois meninos uma negra melancolia. Por fim, numa Quinta-feira, às duas horas da tarde, chegaram a Boa Vista. Havia doze dias que tinham partido do Recife! Saltaram da canoa, com uma sofreguidão