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triste abatimento, sem idéias... Mas a sua energia não estava esgotada. Contou o dinheiro que lhe restava, e verificou que apenas tinha no bolso três mil réis... Mas narrou a sua angústia ao escrivão, e pediu-lhe que o aconselhasse.

— Se o senhor quer ir a Petrolina, — disse-lhe o homem, depois de uma curta reflexão, — o que posso fazer é arranjar-lhe uma boa embarcação. É uma lancha a vapor, que navegava de Juazeiro para cima, e veio até aqui; deve partir hoje mesmo. Podem ir de graça até Petrolina.

Partiram. A lancha navegou todo o dia, mas ao cair da tarde parou: era arriscado viajar, com a escuridão da noite por entre as pedras do rio. Mais essa demora!... Na manhã seguinte, a viagem continuou.

Às dez horas estaremos em Juazeiro, que é o mesmo porto de Petrolina; — disse o comandante — Petrolina e Juazeiro defrontam-se, nas duas margens do São Francisco.

O pequeno vapor, arfando, vencia a corrente, ora tomando o meio dela, ora desviando-se para uma e outra margem, fazendo voltas, fugindo das pedras, evitando as corredeiras. Seriam nove horas da manhã. Carlos e Alfredo, sentados sobre uns sacos, à proa da lancha, estavam tão desanimados que não trocavam uma só palavra. Que viagem! Já lhes parecia que estavam no fim do mundo, que tinham percorrido toda a terra de um a outro extremo. Quando findaria aquela angústia?!

De repente, em uma das voltas do rio, avistaram uma canoa, que vinha em sentido contrário.