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atravez do brazil

— Como é que você sabe tudo isso? — insistiu Alfredo, com a sua eterna curiosidade.

— Porque já vi! vi morto, um dia, um morcego, e examinei-o bem.

A conversa continuou. Juvencio começou a falar das cousas e das gentes do sertão, dos animaes, das pessoas que nelle vivem. Contou os costumes dos sertanejos, que vivem á custa das roças que cultivam e do gado que criam:

— A terra é muito rica, e nunca nega o sustento a quem sabe tratal-a: dá o milho, o feijão, a mandioca, o algodão, o fumo, a cana; e, além de alimentar os homens, ainda alimenta os bois, os carneiros, as cabras, os cavallos que, bem tratados, são para o criador uma verdadeira fortuna. No tempo das chuvas, ha uma fartura geral: o gado engorda, as vaccas dão muito leite, com que se fabricam queijos e requeijões. Mas no verão, na época das sêcas, quando se passam commummente seis e oito mezes sem um pingo de chuva, os campos mirram, as plantações morrem, os pastos ficam torrados, os rios e as fontes secam, o gado em grande parte morre de fome e sêde, e até os homens, para não morrer, andam, ás vezes leguas e leguas, em busca de agua. Quando a sêca dura muito, ha muita gente que morre, quando não emigra em tempo para outros lugares menos assolados pelo rigor do verão. Apesar de tudo isso, a gente toda, que aqui nasce, ama loucamente o seu sertão, e supporta com paciencia e coragem esses revezes.

— É uma boa gente, não é, Juvencio?