Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/93

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de informações sobre o que meu inimigo contava fazer.

“Voltaram às quatro horas da tarde, muito contentes. Falaram ao delegado, e este dissera-lhes que estava tudo acabado, que ficassem tranqüilas, que eu não seria preso...

“Não acreditei nisso, pois bem sabia que o ódio do meu tutor era implacável. O que me tranqüilizava era que, devendo haver eleições no dia seguinte, o delegado, os oficiais de justiça, e os soldados estariam muito ocupados, e não pensariam em mim. Em todo o caso, deliberei partir ao raiar do dia. Jantei, e deitei-me cedo. Pelo meio da noite, ouví a voz de minha madrinha, que me chamava: — Acorda, Juvêncio! Acorda, que o maldito está aí!

“Tinha-se formado uma grande tempestade; e entre o ruído da queda da chuva e o rumor forte dos trovões, ouvi a voz de meu tutor, que bradava:

Abram! Abram! Senão, meto a porta dentro! — enfiei as calças às pressas, e corri para a porta do fundo. Mas, ouvindo vozes, compreendi que estava cercado. Fui à cozinha, onde o telhado era tão baixo que a mão facilmente o alcançava, afastei duas telhas, subi para o teto da casa, saltei para o catingal, e desatei a correr como um louco, tomando o rumo do sul, que era a direção oposta à da vila.

“Um pouco adiante, alcancei a estrada. Mas a chuva caía sem cessar. Era um verdadeiro dilúvio! Descia pela estrada, numa cachoeira; e tudo estava tão escuro, que eu só via onde punha o pé quando um relâmpago alumiava o céu. Molhado