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dores de há pouco. Tinha o peito mais desafogado e a cabeça menos tonta. Além disso, animava-me a confiança que depositava no velho serrador. Esse bom homem era a providência daqueles sítios: não havendo médico por ali, era ele quem se encarregava de tratar todos os doentes. Recebia-os, a todos, com afeto, examinava-os, fornecia-lhes os remédios gratuitamente, e muitas vezes ainda lhes dava dinheiro para as despesas da dieta. Sentia-me entregue a um homem verdadeiramente bom... Pedi-lhe um pouco de água, que bebi com sofreguidão, e adormeci.

“Quando acordei, eram já quatro horas da tarde. Fui despertado pelo meu enfermeiro e salvador. Tomei um remédio, que ele mesmo preparara. E, sentindo-me forte e bem disposto, comecei a contar o que me acontecera: os sofrimentos de minha madrinha, a minha intervenção no conflito doméstico provocado pelo marido, o ódio e as perseguições deste. O serrador ouviu-me com indignação, e tranqüilizou-me:

— “Descanse! Ele não poderá adivinhar que você está aqui, — e hoje as eleições estão preocupando toda a gente. Vou mandar chamar sua madrinha, e combinaremos a melhor maneira de salvá-lo.

“Logo no outro dia, chegou à choça do velho minha madrinha, aflita, pesarosa, dando-me notícias que me amedrontaram: o malvado jurava que havia de descobrir o meu esconderijo, e que havia de vingar-se da minha desobediência; e dizia ainda que me mandaria preso, para o Rio de Janeiro. Eu, que não sou tolo, julguei, refletindo um pouco, que tudo isso não passava de uma