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bravata: como poderia ele mandar-me preso para o Rio de Janeiro, se eu não cometera crime? Disse isto a minha madrinha, para tranquilizá-la. Mas a pobre estava aterrada, e duvidava do que eu lhe dizia:

“— Olhe, Juvêncio! Você, assim que se sentir melhor, deve partir para longe daqui. Eu também não fico... Vou recolher-me à casa de uns contraparentes de minha irmã, no sertão da Serra Negra.

“Ali fiquei durante cinco dias. Quando já me sentia bem, soubemos que meu tutor se dispunha a vir buscar-me em casa do velho. Minha madrinha quis que eu a acompanhasse à Serra Negra. Mas refleti que aí não ficaria livre da perseguição, e, cansado de tanta luta, deliberei sair de Pernambuco. Sabia que em Alagoinha, no Estado da Baía, vivia um padre que me conhecia bastante, pois fora durante muitos anos vigário de Cabrobó. Resolvi ganhar o sertão, descer até Juazeiro, e daí seguir até Alagoinha. Despedi-me de minha madrinha e do velho serrador, — e aqui estou, em companhia de vosmecês.

— E agora? — perguntou Carlos.

— Agora, quando chegar a Alagoinha, conto com a proteção do vigário, que de certo não me negará auxílio. Continuarei a exercer o meu ofício de ferreiro, ou obterei qualquer trabalho, na Baía ou em outro qualquer lugar. Quando a minha vida melhorar, minha madrinha virá ter comigo, e tratarei de tornar-lhe a existência agradável e feliz. E eis a minha história! Falei tanto, que já estou com fome outra vez... Vamos dormir!”