DESENGANO
Vai desmaiando o astro rei do dia
De seu gyro a balisa já roçando
Com a fulgurante cóma, e se extasia
Tão extenso caminho contemplando.
Tambem vão desfolhando-se mirrados
Da minha vida os pallidos momentos,
Atrás os olhos volvo — eil-os passados
Malditos de esperança inda sangrentos.
Palleja a tarde e balsamos vapora
Para descanço ao trabalhoso dia,
Amanhã fulgirá brilhante aurora,
E ha de trazer-me só melancolia.
Quanto prazer a natureza inspira!…
Cantam as aves ao sorrir das flôres,
Mas o meu coração sangra e delira,
Que mais o punge o torturar das dôres.